A Desconhecida Origem Judaica de Muitos de nós Brasileiros.
Por Patrícia Caldeira de Almeida São Paulo, Brasil. 12.06.2003.
Todos aprendemos na escola, logo cedo nas aulas de história, que o povo brasileiro é composto basicamente da mistura de três raças:
branco, negro e índio.
Contudo, os historiadores passaram por cima de um detalhe importantíssimo: como era composto o grupo dos brancos (portugueses).
Graças a esta omissão, apenas agora muitos brasileiros descobrem que podem ser descendentes dos judeus massacrados pela Inquisição promovida por Isabel de Castela, rainha católica da Espanha, com todo o apoio, conhecimento e ajuda, da Igreja Católica.
Isabel, através de contrato de casamento, estendeu a Inquisição à Portugal, obrigando o Rei a livrar-se dos judeus.
Os judeus sefarditas (judeus de Portugal e Espanha, também chamados de sefardim, sefaradim, sefaraditas) foram forçados a se converter ao cristianismo, sendo então denominados "cristãos novos" e deixando para trás toda a cultura e tradição judaicas. Modificaram seus sobrenomes (Aboab, Cohen, Abravanel, Aruch, entre tantos outros), adotando nomes muito comuns entre nós brasileiros até hoje: Pereira, Araújo, Almeida, Bezerra, Caldeira, Dias, Cardoso, Melo, Lopes, Oliveira, Saldanha...
Para descobrir as esquecidas origens judaicas, é necessário inteirar-se da história; do que aconteceu durante a Inquisição, de tudo o que os judeus sofreram e foram obrigados a deixar para trás.
Só assim entenderemos como muitos de nós, criados em famílias católicas, somos em verdade, judeus sefarditas.
Os judeus sefarditas tiveram sua ascendência na Espanha e de lá foram para Portugal, Brasil, Turquia, Marrocos e norte da África.
A população da comunidade judaica chegou a representar mais de 20% da população ibérica.
Os judeus cresceram e prosperaram durante séculos.
Dominavam a ciência, a medicina, a astronomia, a matemática, o comércio e deram origem aos primeiros bancos para empréstimos de dinheiro, inclusive para o próprio Estado. A Inquisição na Espanha iniciou-se em 1478 e foi até 1834. Em Portugal ela se estende de 1536 a 1821 e a Inquisição Romana (reorganizada) em 1542 e abolida em 1746 e em 1800 no quadro de diversos Estados Italianos.
No Brasil, compreendeu o período de 1591, quando nosso país recebeu pela primeira vez a visita do Inquisidor oficial da Corte Portuguesa, até 1821.
Mas, se considerarmos que desde o descobrimento os judeus aqui chegaram já em número significativo nas expedições do cristão novo Fernando de Noronha em 1503, podemos afirmar que o período inquisitorial no Brasil durou mais de 300 anos.
A expulsão dos judeus da Espanha:
Nos séculos treze e quatorze, até ao século quinze, a igreja católica crescia e com isto a pressão sobre a conversão dos judeus também.
Em outras palavras, para um judeu, ser batizado e aceitar o catolicismo era sinônimo de garantir um futuro aparentemente seguro, mesclando-se com os mouros, visigodos, fenícios, romanos e celtas que também habitavam a Península Espano-Portuguesa.
Assim, um filho de cristãos-novos já nascia alheio às tradições e costumes judaicos.
A história nos mostra que netos e bisnetos dos judeus conversos acabaram se tornando frades e padres, pois abraçavam a religião com grande obstinação, fato este peculiar à raça hebréia.
O famoso padre Antônio Vieira (Sermão da Sexagésima) que fez parte da história do Brasil é um exemplo desta assimilação.
Os judeus sefarditas começaram sofrer um processo assimilativo, tornando-se cidadãos comuns, assassinando suas raízes judaicas, abandonando a celebração do Shabat e passando a freqüentar as missas de Domingo.
Mas, isto não acontecia com todos aqueles que se tornavam cristãos-novos. Uma boa parte assumia o cristianismo externamente e acabavam se tornando o chamado "católico relapso", passando apenas pelo batismo e daí para frente não assumia nenhum compromisso.
Grande parte destes judeus vieram mais tarde para colonizar o Brasil.
Até hoje em nossa sociedade este tipo de católico é muito comum. E, finalmente, uma outra parte não significativa praticava o criptojudaísmo, não assumindo interiormente a fé católica.
A terminologia pejorativa de "marranos", que quer dizer porco / sujo em Espanhol, era atribuído aos criptojudeus. Um fato historicamente marcante aconteceu quando surgiu Torquemada, grande perseguidor dos judeus e confessor da rainha Isabel da Espanha.
Isabel casou-se, então, com o rei Ferdinando Aragão em 1469, de Portugal. O trio da crueldade estava formado e dez anos mais tarde os reinos estariam unidos, tendo uma causa comum:
a Inquisição. Neste período havia vários decretos proibindo o judeu converso a ocupar cargos públicos, bem como de usar ou valer-se de qualquer outro privilégio do Estado.
A partir de 1480 o trio Torquemada, Ferdinando e Isabel pôs em prática certas táticas de inquisição contra os judeus e conversos, instituindo os chamados "Autos de Fé" levando esses a uma degradação desumana, mostrando seu lado covarde e perverso. Surgia nesta época artefatos engenhosos para os mais variados tipos de tortura.
Os pobres não tinham outra alternativa a não ser ir para a tortura, declarar-se judeu e optar pela fé católica, escapando da morte.
Para os mais ricos a pena poderia ser computada sob a égide de uma fiança exorbitante.
Várias proibições surgiram na época, como por exemplo, os profissionais não poderiam exercer suas funções de médico, advogado, tão pouco usar jóias de ouro, prata, nem seda ou até mesmo deixar a barba crescer. Não podiam receber dinheiro nem mercadorias de qualquer espécie.
Realmente, os judeus viveram maus momentos no período que foi de 1480 até 1492. Neste doze anos a miséria da comunidade judaica espanhola foi extrema.
Já havia uma imigração deste povo para Portugal, onde a situação para estes judeus era mais amena. Finalmente, o Decreto de Expulsão dos judeus da Espanha ocorreu em 31 de março de 1492 promulgado pelos reis católicos.
Conforme dados históricos, os judeus imigraram para os seguintes países e em tais números: - Para Turquia :
90.000 judeus - Para Holanda : 25.000 - Para Marrocos : 20.000 - Para França :
10.000 - Para Itália :
10.000 - Para América do Norte :
5.000 - Para Portugal :
120.000 Total : 280.000 -
Morreram procurando um lar :
20.000 judeus sefaradis - Batizaram-se e permaneceram na Espanha: 50.000 judeus A imigração para Portugal:
Em Portugal os hebreus eram favorecidos da corte e protegidos da fidalguia, a qual lhes tiravam boa parte dos rendimentos.
Além de ser um país vizinho e mais perto, havia similaridade da língua e costumes. Portugal recebeu assim, o maior número de judeus.
No entanto, Isabel de Castela conseguiu através de contrato de casamento perpetrar sua inquisição em Portugal, também. As humilhações, perseguições e torturas às quais os marranos, judeus, cristãos novos, foram submetidos são incontáveis e absurdas.
Em certo momento, em Portugal, foi ordenado que todas as crianças de dois a dez anos fossem tiradas de seus pais, e transportadas à ilha de São Tomé, que havia sido há pouco descoberta e cujos únicos moradores eram lagartos, serpentes e outros muitos bichos selvagens, conforme relata Samuel Usque em seu livro, cap. 27.
Estas crianças eram deixadas a própria sorte em São Tomé e obviamente, morriam sozinhas e apavoradas. Várias atrocidades foram cometidas contra esses judeus, que tinham seus bens confiscados, saqueados, sendo suas mulheres prostituídas e atiradas às chamas das fogueiras em praças públicas e suas crianças eram deportadas órfãs para as ilhas da colônia portuguesa.
Suas casas eram invadidas e seus filhos pequenos atirados com força contra as paredes, tendo seu crânio esmagado.
Muitos judeus frente ao desespero da conversão forçada, matavam aos filhos e depois a si mesmos. Crianças judias eram roubadas de suas famílias e dadas para famílias católicas, sendo por elas criadas e esquecendo-se para sempre de suas raízes judaicas.
É importante salientar que apesar de forçados à conversão, não necessariamente a perseguição terminava aí. Os cristãos novos não eram aceitos pelo restante da população cristã, sendo sempre vistos como "judeus" A situação estava insuportável no ano de 1499.
Um milagre precisava urgentemente acontecer. Os portugueses foram mais perspicazes do que os espanhóis, pois ao invés de expulsar os judeus, proibiram-nos de deixar o país, a fim de não desmantelar a situação financeira e comercial daquela época, pois os judeus eram prósperos, desenvolvidos na medicina e principalmente, na astrologia e navegação. Os judeus sefarditas, então, eram obrigados a viver numa situação penosa, pois, por um lado, eram obrigados a confessar a fé cristã e por outro, seus bens eram espoliados, viviam humilhados e confinados naquele país. Voltar para Espanha, de onde haviam sido expulsos em 1492, era impossível, bem como seguir em frente, tendo à vista o imenso oceano Atlântico.
O Brasil foi a melhor solução que se apresentou.
E assim, tanto criptojudeus quanto cristãos novos aqui chegaram na intenção de conseguir viver, trabalhar e criar seus filhos, longe dos horrores da inquisição.
Os sobrenomes:
Uma das marcantes características das conversões forçadas era que o converso deveria abandonar seu sobrenome judeu e escolher qualquer outro.
Alguns escolhiam nomes de animais, plantas, objetos. Outros escolhiam sobrenomes que já existiam em Portugal e Espanha e eram usados pelos "cristãos velhos" Como pode ser observado na listagem abaixo, estes sobrenomes escolhidos são usados por nós até hoje.
Possuir um destes sobrenomes não garante que a pessoa seja um descendente de judeu sefardita. Porém, é um indício importante e que não deve ser descartado. Outro forte indício é a família dizer-se católica, mas possuir alguns costumes judaicos em seu dia a dia.
Listarei alguns destes costumes mais adiante. Alguns sobrenomes foram criados ou utilizados pela primeira vez pelo próprio converso, tendo dado este então origem a uma família específica;
como o caso do judeu converso espanhol Nuno Lopez, que trocou de sobrenome (já depois de convertido) para Saldaña. Tendo imigrado para Portugal, adotou a escrita Saldanha, que nunca tinha sido utilizado como sobrenome antes..